quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Desapego...

Todo final de ano e começo de outro a gente tenta jogar as coisas velhas fora...
Todo começo de vida nova é assim, a gente tem que lidar com um sentimento vulgarmente chamado de "DESAPEGO".
Deste muito pequena a minha mente formulou que toda a coisa velha tinha que ser jogada num lixo bem cheio para que ela não se sentisse sozinha, que ela tivesse mil outras "coisas" para conversar. Ai a minha mania de não me desfazer das coisas... Delas irem me acompanhando por um bom tempo...

Depois dessa fase inicial veio o período das caixas e das agendas imensas repletas de recordações tanto ruins quanto boas... Bilhetes de colegas e amigos, papeis de balas e bombons, pálitos de picolé, figurinhas, fotos, blá, blá todo.

Bom hoje crescida muitas dessas coisas citadas acima já não existem mais, foram parar no bom e grande lixo com outros iguais aos seus e assim não ficassem "solitas".

Hoje, durante a tarde, decidir me desfazer de mais algumas folhas que me fizeram muita companhia ao longo de 5 anos de faculdade (História) já que daqui uns dias vou precisar de mais espaço para as novidades que o outro curso me reserva (Arquivologia)

Me "desapeguei" de muitas lembranças da minha vida acadêmica... De muitas sensações que tive... De muitas coisas que aprendi... Parecia que a minha vida estava indo embora. Ver os primeiros planos de aula pararem numa sacola da Renner foi algo que cortou meu coração de manteiga! Mas foi um mal necessário afinal precisava de espaço!

Porém essa arrumação toda me vez lembrar um papo que tive com uma amiga minha dias atrás sobre amigos que vivemos por quase uma vida toda e depois eles criam esse sentimento de "desapego". Amigos que vivemos absolutamente tudo, que contamos nossos desejos e sonhos mais íntimos, dividimos a cerva, aqueles que recebem o melhor abraço... Alguns desses amigos também fazem a tal faxina pois precisam de mais espaço.

Tenho que aprender a lidar com essa onda de "desapego" material e sentimental que ronda o mundo.

E tenho dito :)

Um comentário:

antes que a natureza morra disse...

Tem uma disciplina teológica, chamada Escatologia (=AS ÚLTIMAS PROVIDÊNCIAS), na qual a gente estuda um sentimento que chega com a maturidade geralmente (que independe da idade), que é denominado "descondicionamento". Que pode ser traduzido pelo desapego às coisas materiais e a valorização das coisas essenciais.
Eu me desfiz de quase 600 livros queridos que eu tinha, que não dava e nem emprestava para ninguém e que, para adquirí-los, eu gastei muito do meu dinheiro e trabalho. Simplesmente dei para pessoas, para alunos, amigos e para bibliotecas escolares. Conservei apenas meus livros de Biologia, Ecologia, Zoologia, etc...E da literatura em geral, fiquei apenas com dois : com minha Bíblia e com o "Eu", do Augusto dos Anjos.
Pois aqueles livros todos eu já tinha lido mais de uma vez, devorado, memorizado, etc...por que haveria de ficar com eles ?
Quanto a amigos : eu tinha muitos amigos. Mas os dois maiores amigos que eu tinha eram o Luzinho de Grandi (assassinado em 1988) e o Prado Veppo (falecido em 1999). Depois deles eu continuo com milhares de conhecidos. Mas não tenho mais amigos. Com o conceito de amigo que eu tenho. A maioria dos meus alunos, vizinhos, colegas já se divorciaram. Milagrosamente, eu continuo casado com a mesma mulher há 44 anos (e a amo, jamais pensei em "deletá-la", pra usar um termo da tua geração).
De sorte que eu acho que hj minha mulher é a minha melhor amiga, além de parceira, companheira, fêmea e amante.
Os 3 filhos casaram e moram longe, assim como os 5 netos. E eu e a Vera Maria moramos na praia, tendo a companhia dos cachorros errantes e pescadores.
É da essência humana essa caminhada.
Não a vejo como perda. Cada dia que acordo e me vejo vivo e saudável, me sinto um milionário. E vou lavar a cara, fazer a barba e escovar os dentes. E ao me olhar no espelho sinto um certo sentimento de onipotência ao lembrar de todos os que já morreram. Acordar vivo é uma espécie de megasena biológica que a gente ganha diariamente.
beijo

JP